Menina Livre ao Vento Numa Varanda Alta
translated by Luis Silva Pinto
Photo Title
- Menina com a Brisa na Varanda
Ano
- 1950’s
Eu não estou à espera que algo aconteça, não vou a nenhum lado. Isto não é um jogo de escondidas. De repente afastei-me de todos. Aquela escadaria de mármore. Nunca tinha visto algo tão grandioso. Felicidade minha que tinha calçados os sapatos perfeitos, as solas dificilmente escorregavam permitindo-me saltar de degrau em degrau e mal tocar com os meus pés na pedra.
Foi apenas quando cheguei ao topo e olhei em torno de mim que o vento se fez sentir, como se ambos dobrássemos a mesma esquina ao mesmo tempo, o vento e eu. Isto surpreendeu-me porque estava a sentir-me completamente só, ignorando ruas emparelhadas repletas de pessoas e carros. Aqui em cima eramos apenas eu, o edifício e o vento. Firme, Inabalável, sapatos sobre pedra sólida, costas firmemente apoiadas num enorme pilar liso.
Porque fui atraída a subir tão alto? Uma força magnética puxou-me e eu disse Sim. Foi como se esta brisa estivesse à espera para para me envolver. Na minha mente escrevo uma ode ao vento, como a que memorizamos nas aulas: "Espírito selvagem... movendo-se por todo o lado... cabelo reluzente esvoaçando ao ar". Ondas de frescura sobre minhas coxas nuas, acima das minhas meias, dentro da minha roupa intima.
Neste canto nada oiço, nem um som, nada de lado algum, nem mesmo à distância. No ar paira o cheiro a pirulitos de uva e água. Nem sequer estou infimamente assustada. Alguém deve estar à minha procura, tentando imaginar para onde fui. Certo? Como é que poderia descrever-lhes isto, onde estou? Entre o ir e vir, movimento e quietude, segura e nem por isso, porque me esqueci completamente de cada passo que dei para aqui chegar, nunca encontrarei o meu caminho de volta. Toda a gente já deve ter seguido em frente para algum sítio. Há quanto tempo estou aqui em cima? Nem sequer consigo ver onde o sol deve descer no céu, quanto tempo passou.
Ó Vento, o que é o tempo?
"Se o Inverno chegar, poderá a Primavera estar muito longe?"
Não serei punida pelos meus desejos. Se eu decidir seguir uma escadaria convidativa até ao patamar mais alto de uma arquitectura ampla, é o meu direito, o desejo é a minha ordem, para descobrir o que puder descobrir. Talvez nunca mais precise de alguém. Este lugar é adequado a mim. Nunca terei fome aqui, deixando umas carências terrenas lá em baixo. Não me importará que quando o sol desaparecer por detrás do horizonte fique escuro em todo o lado. Estou fortificada numa fortaleza. Como pedra, uma obra de arte, esculpida em pedra, impenetrável, imóvel, auto-contendo todo o "tumulto de poderosas harmonias".
Citações de Ode ao Vento Oeste por Percy Bysshe Shelley (1792-1822)
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